Recentemente, pedi-vos no Instagram para que partilhassem de forma privada as vossas suposições sinceras no que toca ao assunto de stay-at-home moms e quero, desde já, agradecer às duas pessoas que perderam um pouco do seu tempo para me mandar os seus pontos de vista sobre este assunto. Vocês sabem quem são e fizeram o meu dia!
Vou estar a abordar estas suposições baseada na minha experiência pessoal enquanto mãe que trabalhou a full-time e stay-at-home mom. No final irei ainda abordar algumas suposições comuns que tenho encontrado ao longo desta experiência.
"Ser stay-at-home mom é um trabalho difícil de se ter."
Sem dúvida! Como referi na Minha Rotina de Stay-at-Home Mom, ser pai ou mãe requer imensa paciência e dedicação, e é sem dúvida um dos trabalhos mais difíceis no mundo, portanto fazê-lo 24/7 sem parar pode, por vezes, tornar-se um tanto ou quanto desgastante. No entanto, é como em qualquer outro trabalho. Quando se trata de algo que nos apaixona e concretiza, todos os momentos menos bons se tornam um pequeno grão de areia perdido no imenso areal no fundo do mar.
Tendo passado pela experiência de trabalhar uns meses enquanto mãe de um bebé fez-me perceber o quão mais difícil é para mim combinar ambos, especialmente no primeiro ano e meio de vida da criança.
Dois factores que tornaram a decisão de me tornar stay-at-home mom mais fácil foram sem dúvida o facto de não estar a trabalhar no meu emprego de sonho e considerar o tempo de licença de maternidade muito inferior ao que é natural. Pondo as coisas na balança, nem foi preciso pensar duas vezes antes de ter a certeza que preferia dedicar-me a tempo inteiro ao desenvolvimento da minha filha, ao invés de perder esse tempo precioso e que nunca voltará atrás numa empresa que olha para mim como apenas mais uma pessoa substituível.
Voltar ao emprego com horas de sono acumuladas e ser interrompida a cada x horas para retirar leite para o bebé, depois correr para casa para nem ao tanto conseguir passar tempo com a minha filha mas ainda assim ter as lides de casa à espera foi sem dúvida bastante mais esgotante do que dedicar a minha atenção a cem por cento a uma criança que não para de falar o dia todo, ter de encontrar actividades interessantes para fazermos ou ultrapassar as minhas barreiras e inseguranças no que toca a abordar outros pais e crianças de uma forma regular.
Por mais cansativo que possa parecer por vezes, no final do dia, quando olho para a minha filha e vejo o quão emocionalmente balançada está e todo o desenvolvimento que ela teve ao longo dos três primeiros anos de vida, sinto um orgulho completamente superior ao que alguma vez um outro emprego me tenha feito sentir, e para mim não há dinheiro que valha nem perto disso.
"Como sou muito independente, não me vejo a ficar em casa e abdicar do emprego, para ser mãe a tempo inteiro, porque teria de depender financeiramente do meu companheiro. Uma das coisas a que dou mais importância é a minha independência a esse nível (...)"
Achei este ponto de vista bastante interessante, pois tendo eu começado a trabalhar aos dezassete anos para ganhar independência o mais rápido possível, perdê-la foi sem dúvida um dos meus maiores medos no início. Se por um lado sei que o trabalho que desempenho é pago de uma forma tão valiosa que o dinheiro não paga, por outro deixar de contribuir financeiramente foi algo que, sem dúvida, me obrigou a uma certa adaptação. No entanto, esta experiência rapidamente ensinou-me duas coisas importantes.
Um | Passar um ano sem comprar coisas para mim, à excepção de bens essenciais, fez-me perceber o quanto dinheiro gastava de forma impulsiva em coisas completamente desnecessárias. Chamem-lhe um completo cliché, mas a verdade é que se trata de uma experiência importante e que nos muda completamente a perspectiva. Rapidamente comecei a apreciar muito mais a simplicidade e tudo o que o dinheiro não traz e percebi o quanto, a nível material, já tenho e que de facto é bem mais do que alguma vez precisarei para ser feliz.
Dois | Medos à parte, no final de contas a minha independência financeira continua igual. Depois de termos a nossa primeira filha, todo o meu salário servia para pagar a creche e não, não estou a exagerar. Ou seja, estávamos os dois a trabalhar para ganhar o suficiente para pagar a creche, que por sinal só era necessária pagar para que ambos pudéssemos voltar ao trabalho. Estava a trabalhar oito horas por dia fechada num escritório simplesmente para pagar a alguém que cuidasse da minha filha por mim, para não a poder ver mais do que três dias por semana e no final de tudo manter o mesmo dinheiro na conta.
Pondo as coisas noutra perspectiva, quando estamos numa relação em que ambos os ganhos e despesas são divididos de forma igual, a situação acaba por ser a mesma. Verdade que por vezes é chato ter de abordar a questão do dinheiro, mas por outro lado, isso faz-me ponderar melhor os benefícios que algo que quero comprar me possa trazer, fazendo assim compras mais conscientes e menos impulsivas. Continuo a ter dinheiro para gastar sem dever explicações ou precisar de permissão, o que é apenas justo tendo em conta que ambos trabalhamos em funções diferentes, a única diferença é que um emprego é pago em dinheiro e o outro é pago em bens não materiais. Acaba por ser tudo uma questão de encontrar um bom balanço e manter a mente aberta.
A minha posição
Cada vez que vejo o tema de stay-at-home moms a ser abordado, sobretudo por mulheres que ainda não são mães, vejo estes três medos/suposições a serem mencionados:
Perdes inteligência e consequentemente não vais conseguir voltar a trabalhar.
Não tens tempo para ti própria.
Vais-te sentir isolada, perder auto-estima e acabar num estado de depressão.
Sendo stay-at-home mom à cerca de três anos, estou aqui para vos dizer o seguinte.
Primeiro que tudo, não se trata de uma posição permanente a menos que assim o queiram. Apenas porque decidimos fazer uma pausa nas "carreiras" ou empregos para dedicar o nosso tempo inteiro a cuidar das nossas crianças nos anos mais valiosos das suas vidas, não implica que deixemos de ser capazes de voltar um dia ao trabalho. Desde que deixei o meu emprego que tenho bem mais tempo e cabeça para me dedicar a aprender e desenvolver as minhas competências pessoais do que alguma vez tive enquanto trabalhava a tempo inteiro. Na verdade, durante todos os anos de trabalho que tive, dava por mim a desperdiçar o pouco tempo livre de forma inútil/não produtiva ou a tratar das lides da casa, ao invés de usufruir desse mesmo tempo para desenvolvimento e tratamento pessoal.
Assim que a minha primeira filha completou dois anos de vida, várias pessoas me abordaram fazendo pressão para que voltasse ao trabalho, pois como me foi dito "é importante para a tua auto-estima". Acho engraçado que para essas mesmas pessoas, manter um trabalho cujo não me traz um pingo de felicidade é ainda assim mais importante do que cuidar da minha filha nos primeiros anos de vida e ter o maior prazer a fazê-lo. Não sei quanto a vocês, mas pessoalmente não construo auto-estima por estar num trabalho apenas para ganhar uns trocos no final do mês, nem ao tanto me sinto menos sozinha por ter de lidar com as mesmas pessoas diariamente simplesmente devido às circunstâncias. Sou livre de abordar as pessoas na rua, de interagir com outros pais na mesma situação que eu, de comunicar com qualquer pessoa sempre que saímos à rua. Não sinto que ser stay-at-home mom me prive dessa interacção, aliás, muito pelo contrário.
Passando por toda a experiência, posso-vos garantir que me sinto muito mais confiante em mim mesma, mais feliz e concretizada agora e, felizmente, depressão é uma coisa que ficou no passado porque finalmente me vejo a fazer algo que de facto me preenche. A cada dia que passa me sinto mais grata por ter esta oportunidade e mais confiante de que tomei a decisão mais acertada.
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