MUDAR DE PAÍS

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Uma das questões que recebo com mais frequência é "Porque saíste do teu país de origem?" seguida por "Porquê trocar o solarengo Portugal pelo terrível tempo Holandês?".

Apesar da resposta curta a essa pergunta ser "por amor", existe toda uma história mais complexa por trás.

Quando decides mudar de país, a maioria das pessoas automaticamente assume que o fazes de animo leve e que não podes estar mais feliz com a nova aventura. No entanto, não foi bem isso que senti na altura. Se uma parte de mim sabia que seria a melhor decisão a tomar para continuar a viver uma vida feliz, outra parte de mim apenas gritava de pulmões cheios que seria a decisão mais difícil que alguma vez iria ter de tomar.

Falar neste assunto é para mim algo bastante pessoal. Estes foram tempos bastante intensos. E apesar de muitos me poderem julgar como demasiado dramática, lembrem-se que tinha apenas vinte anos na altura - estamos a falar de uma criança.

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Pouco depois de comprarmos casa e começarmos a viver juntos, o David disse-me que queria sair do país em busca de novas experiências e de uma melhor qualidade de vida. Por qualquer razão, a Holanda pareceu-lhe o lugar ideal para procurar isso. E assim foi.

À oito anos atrás, no mês de Julho, vi o meu namorado de longa data a fazer as malas e seguir rumo ao país onde até hoje moramos. Foram precisos cerca de nove meses a viver numa relação à distância com a única pessoa que realmente me faz feliz para conseguir digerir tudo e ganhar a coragem necessária para dar o grande passo em frente. Até lá, todo o processo foi uma valente bosta.

O contacto era diário, mesmo que através de um ecrã e as visitas eram o mais regulares que podiam ser. Em 2010, viajei pela primeira vez até à Holanda com a intenção original de sentir a vibe do país antes da mudança. No entanto a coisa correu um pouco ao contrário.

Na minha mente inocente a Holanda era aquele país super calmo e tranquilo, com gente de mente aberta, largos campos verdes repletos de vacas, ovelhas e moinhos. E é! No entanto, eu aterrei numa cidade mega lotada e povoada de turistas, bicicletas e línguas estranhas a serem faladas por todo o lado e ao tempo todo. Digamos que a ideia de começar uma vida do zero num lugar completamente desconhecido foi-se tornando cada vez mais amarga, e rapidamente me senti a colapsar num estado de angustia.

Todo o tempo passado sozinha em Portugal fui concebendo a ideia de um país maravilha com pessoas e um estilo de vida com o qual não me podia identificar mais. No entanto, o que eu senti ao chegar foi uma imensa sensação de vazio, de não pertencer. Ouvir as histórias e experiências do David com um sorriso estampado no rosto e perceber o quão feliz ele estava, fez-me perder completamente as esperanças de o convencer a voltar a Portugal. O meu coração partiu-se em bocadinhos ao perceber que tínhamos dois caminhos diferentes a seguir daí para a frente.

Apesar de agora parecer ridículo, na altura só me conseguia ver como uma pedra no sapato, que o impedia de andar em frente confortavelmente. Não me senti pronta a abdicar de tudo o que tinha finalmente acabado de conquistar - uma casa nova e minha, um trabalho decente, uma vida adulta -  "independência". Assim, voltei para Portugal passado o mês de experiência, decidida a nunca mais por os pés no país que me tinha roubado a alma.

Olhando para trás posso garantir que esta sim, foi a coisa mais difícil que tive de fazer até hoje. A que mais me magoou pelo menos, e ainda magoa. Demorei demasiado tempo a sair da minha própria cabeça e a perceber que o que o David estava na verdade a fazer era a construir uma boa fundação para nós, para o nosso futuro juntos.

Voltar à rotina em Portugal não foi de todo fácil. Passei o tempo rodeada de amigos e amigos de amigos para compensar o facto de não ter comigo a pessoa que realmente queria. E ainda assim, no final do dia a sensação de vazio e solidão só tinha tendência a crescer. Nas noites em que conseguia dormir o recorde foram quatro horas. Se estivesse sozinha simplesmente não queria comer e acabei por embarcar em maus hábitos sem dar por isso.

Levei algum tempo a entender a densidade da escuridão do lugar onde estava no momento, e ainda mais a ter a certeza dos motivos por detrás. Lentamente fui-me desconectando de tudo ao ponto de não conseguir mais ver um futuro feliz em Portugal. Apesar de deixar todos os meus amigos, família, casa e tudo o que conhecia para trás me ter despedaçado o coração, estar distante do David era incomparável.

A sensação de não pertencer mais onde estava foi crescendo em mim e foi aí que percebi que a única solução era começar tudo do zero. Depois de longas e profundas conversas com alguns amigos (obrigada Rui por aturares as minhas divagações deprimentes!) finalmente fiz as malas, disse adeus a tudo e apanhei o voo para Amsterdam.

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Enquanto o meu irmão nos levava até ao aeroporto desatei a chorar como nunca antes. Depois disso muitas foram as vezes que chorei, se não todos os dias durante um ou dois meses. Apesar de estar feliz por poder estar com o David, a mudança não deixou de ter um gosto a luto.

Foram precisos dois anos para finalmente fazer as pazes com este país e deixar de comparar ambos os países. Depois disso foi fácil ter a certeza de que este é o meu lugar e o sítio onde consigo ser verdadeiramente feliz. Não trocaria por nada nem o teria feito de outra maneira porque apesar do processo não ter sido o mais fácil, aprendi lições valiosas que de outra forma ainda não teria aprendido.

Adoro Portugal de uma forma sem igual. Ver essa luz que não existe em mais lugar algum no mundo traz-me sempre um nó no estômago e lágrimas aos olhos. Mas a verdade é que não me vejo a viver aí, pelo menos num futuro próximo. As razões para isso são tantas que ficam para um futuro post, caso tenham interesse.

Por agora, só posso agradecer ao David por ter tido os tomates que me faltaram na altura. Por ter estado sempre do meu lado, mesmo quando fui a minha pior pessoa. Se não fosse por te ter na minha vida o mundo girava de uma forma completamente diferente e não tenho o mínimo interesse de saber como teria sido.


2 comentários

  1. Nem imagino como terá sido... Mas ao ler até me dá a mim um nó na garganta!!!

    Beijinhos
    https://titicadeia.blogspot.pt/

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    1. Sem dúvida que não é tarefa fácil, mas no fundo vale sempre a pena tentar!
      Beijinhos

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