A IMPORTÂNCIA DE ESTAR OFFLINE



O David aka o meu namorado (e provavelmente o meu fã numero um) tem-me relembrado constantemente para voltar a criar conteúdo aqui no blog. Já faz algum tempo, não é? Nem sei muito bem o que me fez demorar tanto, mas precisava mesmo deste tempo offline de forma a conseguir focar a minha atenção noutros aspectos da vida que tenho negligênciado no ultimo ano, mais coisa menos coisa.

Uma vez que estive ausente durante um bom período de tempo, achei que seria a altura ideal para vos trazer este post que tem andado perdido pelos meus rascunhos faz séculos.

Existe a ideia errada de que se não estivermos constantemente a marcar a nossa presença online seremos rapidamente esquecidos. Mas curiosamente tenho recebido mais feedback da vossa parte durante este período de ausência do que quando estou online com regularidade. Por isso muito obrigada, porque não só me traz a motivação para voltar a criar conteúdo, como também me fez perceber a importância de permitir algum tempo apenas para mim própria.

"Offline é o novo luxo." Alguém alguma vez disse. E por mais estranho que possa parecer rapidamente se tornou bastante verdadeiro.

Faz tempo que removi a grande maioria das plataformas sociais e apps de mensagens do meu telemóvel. E faz séculos que não vejo televisão, leio ou ouço notícias.

Também comecei a passar a maioria do meu tempo afastada do telemóvel e silenciei todas as notificações durante um período de tempo durante os meus dias.

Ao fazer isso percebi umas quantas coisas que achei interessantes partilhar convosco. Mas antes disso tudo, vou partilhar um pouco sobre mim, para que vos ajude a perceber o que me levou a fazer esta mudança.

Uma breve introspeção

A primeira coisa que devem saber sobre mim no que toca a este assunto é - odeio ouvir telefones a tocar, especialmente no que toca a notificações ou mensagens. Desde muito nova que tenho problemas em manter a concentração, por isso ter um telemóvel por perto constantemente a tocar é uma distração que me deixa extremamente irritada na maioria das vezes. 

Sou de uma geração em que telemóveis ainda nem existiam, quanto mais smartphones. Não quero dizer com isto que sou contra a tecnologia ou que acho que os smartphones são o belzebu que vem pegar fogo às nossas almas. Apenas acho que na generalidade, as pessoas não são educadas para tirar o melhor uso dos smartphones e facilmente ficamos colados ao telemóvel por bem mais tempo do que devíamos. 

Ser mãe ajudou-me bastante a perceber as consequências dos meus actos. Ter a minha filha a imitar todos os meus gestos abriu-me os olhos para mudar os meus hábitos de forma a dar-lhe os melhores exemplos que posso. E um exemplo bastante importante é que existe um tempo e espaço para tudo e que mais importante do que passar tempo agarrada ao telemóvel, computador, tablet, etc. é simplesmente estar presente. 

Tomando acção

À uns tempos notei que andava bem mais ansiosa e em baixo. Parte do porquê era por ter demasiada informação à minha volta. A outra parte era porque não me estava a permitir tempo para mim própria. Com isto quero dizer tempo sem telemóvel, computador, nada - simplesmente momentos de tédio. Esses também são importantes, sabiam?

Decidi então largar a televisão e tudo o que tivesse ligado a noticias, para começar. Foi tão grande o alivio que senti por não ter de encher a cabeça com noticias em formato sensacionalista e de opiniões formadas sobre assuntos que apenas me fazem sentir oprimida, assustada e impotente. Muita gente considera esta uma acção egoísta e um desprezo pelo que se passa no mundo. Mas acreditem que as noticias importantes arranjam sempre forma de chegar até mim, só que nesse momento são noticias meramente informativas e não tentam manipular a minha opinião sobre os factos de uma maneira ou de outra.

Ainda assim, depois disto, notei que ainda estava a ser demasiado distraída. Em vez de usufruir do meu tempo para criar ou fazer algo de importante para mim própria, passava demasiado tempo a fazer scroll nas plataformas sociais, por exemplo. Por isso decidi remover a maioria das aplicações de mensagens e medias sociais do meu telemóvel. Não significa que não abra os websites de vez em quando, mas definitivamente ajudou-me a criar um horário orgânico e estar menos dependente desse vício. Além disso, trouxe-me mais "tempo livre" para fazer algo de realmente prazeroso.

O começo

No início senti-me um pouco culpada por estar mais ausente do mundo online, especialmente por ter receio que fosse visto como se eu simplesmente não quisesse saber. Mas agora, que não sinto essa pressão constante, percebi o quão importante foi para mim dar este passo atrás e simplesmente respirar. Se eu me sinto bem comigo mesma posso afectar positivamente todos à minha volta, mas o mesmo funciona no espectro oposto, e eu sou demasiado transparente no que toca a transmitir como me sinto. 


Algumas coisas que aprendi com esta experiência


As pessoas não esperam que estejas offline. Se demoras mais do que um determinado tempo a responder ou a partilhar algo nas plataformas sociais, a maioria das pessoas vai ficar preocupada e começar a questionar o que se passa ou porque não respondeste. Por isso, se de uma forma estar offline pode parecer mais relaxante, definitivamente que no início se pode sentir aquela pressão para voltar. A parte boa é que com o tempo as pessoas começam a entender e a respeitar a tua decisão. 

Não estar constantemente online faz-me sentir mais próxima da família e amigos. Se estou com alguém provavelmente não faço ideia de onde tenho o telemóvel. Estou ali presente naquele momento o mais interessada possível no que têm para me dizer. Sinto que a partilha constante no mundo online nos desconecta uns dos outros no mundo real, dando a ilusão de que sabemos tudo uns sobre os outros e por isso não sentimos tanta necessidade de nos conectarmos na vida real. 

Afinal existe tempo livre! Quando comecei a transformar o tempo que passava agarrada ao telemóvel a fazer algo realmente interessante, aquela sensação de vazio no final do dia desapareceu por completo. Não só sinto que tenho mais tempo para me focar em alguma coisa como me fez estar mais presente e apreciar muito melhor tudo o que se passa à minha volta. 

É de facto um vício. Alguma vez paraste para pensar na quantidade de vezes que olhas para o teu telemóvel num só dia? Acredita que é bem mais do que possas imaginar. Notei que estava constantemente a agarrar no telemóvel por nenhum motivo aparente, sem receber mensagens, notificações, nada. Porquê? Nem eu sei, acho que apenas criei esse hábito. E as vezes em que pegava no telemóvel para ver as horas e acabava a ver o que quer que fosse durante horas e já nem sequer me lembrava porque tinha tirado o telemóvel do bolso? Provavelmente vezes a mais. 

Dás mais atenção às pessoas ao teu redor. Não apenas no sentido de estar mais presente, mas começas a notar que a maioria das pessoas à tua volta está com o olhar penetrado nalgum ecrã em vez de interagirem uns com os outros. Pormenores como falar com alguém que em vez de te olhar nos olhos está a olhar para o telemóvel começam a irritar, especialmente por se tornar numa coisa tão casualmente banal. 

Momentos aborrecidos são igualmente importantes. Esta questão não é apenas importante para as crianças, mas igualmente valiosa para adultos. Claro que não existem momentos de tédio quando se tem um telemóvel com bateria carregada e acesso ao wi-fi. Mas estás a ser de alguma forma produtivo? Esse momento conta realmente para a tua felicidade ou deixa-te preenchido? Permitir "momentos de tédio" por dia é super importante para a nossa criatividade, introspeção, tranquilidade interior, pode-nos deixar bem mais calmos, focados e motivados. É um tempo precioso para manter o contacto connosco próprios e com tudo de bom que nos rodeia. 

No final de contas, apenas tu podes escolher o momento certo para estar onde queres estar.

4 comentários

  1. Tão bom ler este post, Inês! Já esperava lê-lo desde que me disseste que tinhas um post em rascunho sobre o assunto. Não me lembro se te disse que tinha igualmente um post já escrito sobre o tema, e entretanto até já o apaguei e talvez um dia o reescreva, agora com uma percepção ainda mais aprofundada sobre tudo isto.

    Tenho imensa dificuldade em estar mais ausente das redes sociais com um negócio próprio. Já tive alturas em que me limitei a ler somente as mensagens que chegam de pedidos de informação ou orçamentos, e isso teve um impacto tremendamente positivo em mim.
    Mas há coisas de que não prescindo - notificações desligadas, sempre. Estas plataformas estão desenhadas para roubar a nossa atenção constantemente e a prender-nos por lá o máximo de tempo possível! Sem notificações e indo lá quando eu defino que é altura para isso faz tanta diferença!

    Até com as instagram stories (que inicialmente odiei mas agora aprecio), que são pensadas para publicar de forma mais intantânea faço por contrariar isso - tantas vezes as fotos que por lá publico são na verdade de horas antes ou até mesmo do dia anterior! Prefiro mil vezes viver o momento sem essa ânsia de partilhar no imediato!

    "as pessoas não são educadas para tirar o melhor uso dos smartphones e facilmente ficamos colados ao telemóvel por bem mais tempo do que devíamos." Acho que é o ponto fulcral deste assunto e é urgente que seja uma questão mais discutida, que mais pessoas reflictam sobre ele e que se eduque, especialmente as gerações mais jovens, que são mais afectadas por isto. Vejo coisas entre os adolescentes na minha família que me deixam seriamente preocupada, e acho que isto devia estar até no programa de alguma disciplina do ensino básico ligada às tecnologias!


    Beijinho, Inês! Senti a tua falta por aqui, mas como te compreendo!

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    1. Ainda ontem falava com o David (pela milésima vez) sobre a importância de haver educação tecnológica nas escolas e como isso não interessa a "quem está no poder" porque a intenção é mesmo criar dependência e ao fim ao cabo moldar cada vez mais as pessoas (dá para ver o meu toque anti-social?) Enfim. É um pouco como a falha na educação sexual e optar-se antes por incutir o medo, que nunca resulta bem. Meh, tenho tanto para dizer, mas tal como este post demorou meses a sair, tudo sairá ao seu tempo. Fico mesmo muito feliz e de coração cheio por saber que gostaste e, como sempre, por ler o teu comentário. Tinhas-me falado nesse post sim e continuo a aguardar, especialmente vindo de quem vem. Adoro ter-te encontrado. Um grande abraço!

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  2. Gostei muito desta tua grande reflexão. Faz-nos realmente pensar no quotidiano que hoje a maioria das pessoas leva, incluindo eu, apesar de não ser «agarrada nem viciada» ao telemóvel, mas ainda o uso bastante... às vezes, parar um bocadinho faz-nos ver outras coisas... eu acho que quando estamos online neste mundo, estamos de certa forma um pouco offline da realidade! E isso tem um peso.
    Um beijinho!

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    1. Olá Carolina! Muito obrigada pelo teu comentário. Fico muito contente por saber que gostaste e que te ajudou de alguma forma!
      Um beijinho enorme!

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