UM DIA QUE MUDOU TUDO

Uma vez que estamos a chegar próximo do Natal, achei que seria a altura perfeita para vos trazer este pequeno presente que muitos têm pedido. 

Um mês já se passou desde que a Eva nasceu e eu não posso acreditar no quão rápido este tempo passou e quão grande e fofa (se possível) ela ficou.

Este post é capaz de ficar bem extenso, por isso agarra o teu café ou chá, põem-te confortável e bora lá começar.

mãe

Primeiro, temos de viajar um pouco atrás no tempo.

O nascimento da Eva estava estimado para doze de Novembro, mas em vez disso, nesse dia tive mais uma consulta de rotina com a parteira e voltei para casa para o meu já habitual nada que fazer senão esperar sentindo-me um pouco nhonho com a ideia de possivelmente ter de induzir o parto (apesar de estar tudo bem e esta preocupação apenas atormentar a minha cabeça).

Com o passar dos dias, cresceu em mim a sensação de que o dia dezassete de Novembro iria ser diferente. E na verdade tudo começou nesse dia.

No dia dezassete de Novembro, acordei super cansada e depois de responder a um molho de mensagens que diariamente recebia questionando se já havia alguma novidade, dormi uma sesta no sofá e fui acordada pela minha querida equipa que me ligou da sala de conferências. Foi super inesperado e fez-me sentir tão bem!

Depois de almoço, sentindo-me como um pinguim gingante, fui até ao veterinário com o Einstein e a Yoko. Novamente aquela sensação de que algo importante estava para acontecer apareceu. A consulta foi super engraçada porque a veterinária e assistente estavam tão felizes de me ver no final da gravidez que só me diziam "Espectáculo, então pode acontecer já em qualquer momento!", enquanto contavam histórias super cómicas sobre os partos das amigas.

Voltando para casa, já de tarde aquela sensação de esperança tinha-se desvanecido por completo transformando este dia em mais um dia aborrecido.

Novamente, lá estava eu estatelada no sofá, desta vez a falar com uns amigos e com o David num grupo de chat e, enquanto a Ana escreve "vá lá Eva", comecei a sentir um tipo de contracção diferente. Uma vez que já tinha passado as semanas anteriores com "contracções de treino" decidi ficar sossegada e deixar o dia passar.

Por volta das seis e meia da tarde enquanto arrumava as compras do mês, o David chegou a casa depois de um dia de trabalho, e por esta altura as contracções já se estavam a fazer sentir mais fortes. Estávamos os dois super ansiosos e excitados mas eu tentei ao máximo manter-me descontraída e com as esperanças em baixo, não fossem ser contracções de treino novamente.

Comemos bacalhau com batatas no forno para o jantar. Estava tão bom que apesar de querer comer mais, decidi comer o mínimo possível com medo de ficar mal disposta.

O David estava a trabalhar remotamente ao meu lado no sofá enquanto eu tentava ver uma série no Netflix, mas as contracções já estavam a ficar intensas ao ponto de me quebrar a concentração e me fazer fechar os olhos e respirar fundo.
Ainda não estava bem a acreditar no que se estava a passar, e com medo de chamar a parteira em vão, decidi antes tomar um banho relaxante e esperar que o David parasse de trabalhar, para ver se de facto as contracções eram consistentes para ligar à parteira a meio da noite.

Por volta das onze e meia da noite liguei à parteira (telefonema mais surreal da minha vida) e meia hora depois estava ela e uma estudante à minha porta. Acabou por ser a estudante a examinar-me e tomar conta de mim o tempo todo sob a supervisão da parteira.

Bebemos um chá, falámos um pouco. A cada contracção eu sorria e dizia "Yey! Uma a menos, mais umas para vir.". Fomos para cima, até ao primeiro quarto onde eu e o David dormimos nesta casa, que estava preparado para o parto, e depois de uma análise disseram-me que estava com três centímetros de dilatação. Ambas foram para casa e voltaram por volta das três e meia da manhã.

Por esta altura, as contracções já estavam tão fortes e próximas umas das outras que eu mal conseguia falar. Lembro-me da parteira me dizer num tom de gozo "Oh agora já não estás toda sorridente a dizer menos uma", eu queria rir-me mas só consegui olhar para ela com uma cara estranha e pensar "Yep, tens razão".

Depois de me analisarem novamente disseram-me que já estava com sete centímetros de dilatação e, de forma a encurtar o processo para mim, a parteira rebentou-me as águas. Foi aí que a ouvimos dizer "É uma pena, mas vamos ter de ir para o hospital por precaução porque há mecónio no liquido amniótico". 
O meu plano de parto sempre foi manter as coisas o mais natural possível, sem qualquer tipo de medicação e em casa. Tive a sorte de pelo menos experiênciar o início do parto no conforto da minha casa, e por isso não podia estar mais feliz. Mas estava na hora de ir.

Dito isto, apressamo-nos para o hospital. O David agarrou na mala pronta com as coisas para a Eva e uma muda de roupa para mim. Lembro-me dele e da parteira me perguntarem se queria que me calçassem, mas sinceramente naquele estado já só queria mesmo chegar ao hospital porque sentia uma vontade enorme de fazer força a cada contracção. Respondi-lhes que não e acabei por ir e voltar descalça, só com as minhas meias fofinhas. No regrets! Lembro-me ainda de tentar ir ao meu quarto buscar o carregador do telemóvel, e a meio pensar "fod*-se para isto, bora lá mas é para o hospital". Com isto, a nossa câmara fotográfica ficou em casa e apenas conseguimos sacar umas poucas fotografias com ambos os telemóveis praticamente sem bateria.

Estava muito vento nessa madrugada e cada lomba na estrada fazia com que as minhas contracções se tornassem cada vez mais insuportáveis, por isso não podia estar mais aliviada ao chegar à porta do hospital.

Foi no quarto dezasseis que tudo aconteceu, e por onde começar...

Deitei-me na cama e vi imensas pessoas entrar e apresentarem-se. Ao meu lado estava o David e a estudante parteira. Ambos ficaram do meu lado o tempo todo a dar-me um suporte indispensável durante todo o processo.

Lembro-me de pedir um copo de água, que acabei por só conseguir beber depois da Eva nascer, e de ouvir o David a aceitar a proposta de uma sandes de queijo como snack, oferecidos pela parteira.

Depois de ser embrulhada em fios e da grande maioria dos meus orifícios serem perfurados por sabe-se lá o quê, só conseguia ouvir toda a gente no quarto a relembrarem-me de respirar e não fazer força.

A Eva estava com a cabeça mal posicionada e por isso tive de me virar umas quantas vezes na tentativa de a posicionar de uma boa maneira e poder finalmente começar a fazer força. Posso dizer que de todo o processo, esta foi sem dúvida a parte mais difícil, porque perdi grande parte do controlo do meu próprio corpo e por mais que quisesse respirar fundo e não fazer força, todas as células do meu corpo me pediam para ventilar e contrair para empurrar a Eva cá para fora. Estava tão preocupada em fazer algum mal à Eva por não conseguir controlar bem as contracções, que acabei por pedir um pouco de morfina, que por sinal não fez mais do que dar-me sono no pouco tempo que foi administrada.

E f-i-n-a-l-m-e-n-t-e ouço as palavra mágicas "na próxima contração podes começar a fazer força". Oh que alívio!!! Sabes quando precisas muito, mas mesmo muito, de ir à casa de banho e finalmente vês-te em frente a uma? Agora multiplica isso por um milhão e tens assim uma pequena ideia do que eu senti! Dentro da minha cabeça só conseguia saltitar e fazer uma festa por finalmente poder fazer força. Mas ainda havia muito por fazer.

A parte de fazer força foi tolerável. Houve uma altura em que pensei para mim própria que ela nunca iria sair por ali e outra em que ouço o David dizer "Boa mor, já estou a ver um bocadinho da cabeça" e só lhe respondi "Pff... Um bocadinho? Pensava que já estava quase toda cá fora". Ouvi-o traduzir o que eu tinha dito ao pessoal na sala e eles a rir de seguida.

Depois novamente as palavras "não faças força" e depois de mais uma contracção e um grande empurrão, às sete e vinte e uma da manhã de dezoito de Novembro, colocam-me o ser humano mais lindo à face da terra em cima do peito. (Olha a lagriminha no canto do olho ao escrever isto. Ahh)

É sem dúvida a sensação mais surreal e mirabolante! Fiquei tão embasbacada que não consegui sequer chorar e só lhe disse "Bem-vinda.". Olhei para o David, que ainda estava ao meu lado, mas desta vez com uma cara, completamente estático de boca meio aberta, completamente deslumbrado por tudo. Senti-me tão orgulhosa por ele, pela Eva e por mim naquele momento. E depois, os médicos chamaram-no à realidade para cortar o cordão umbilical, e após uns minutos deixaram-nos aos três sozinhos no quarto.

Depois de algumas horas e um merecido banho, mudaram-nos para outro quarto para que pudéssemos descansar melhor e ficar mais confortáveis, uma vez que iríamos ter de ficar no hospital por nove horas após o parto para poderem monitorizar-nos e ter a certeza que a Eva não ia ter nenhuns problemas respiratórios derivados do liquido amniótico sujo. Estava sempre alguém a entrar e sair do quarto para perguntar se estávamos bem e oferecer comida. O David ficou a dormir numa cama ao meu lado e às seis da tarde do mesmo dia estávamos finalmente livres para voltar para casa.

A todas as pessoas que ouço falar mal do sistema de saúde em Amsterdam, só posso lamentar.

Todas as pessoas, desde o primeiro dia do meu acompanhamento até hoje em dia no acompanhamento da Eva, tem sido impecáveis, cinco estrelas mesmo. A todos eles só tenho a agradecer a dedicação e atenção que tiveram para connosco e sinto-me super agradecida por nunca me terem feito sentir como um número ou mais uma mulher a ter um filho, mas sim eu Inês a experienciar o parto da Eva e o momento mais louco da minha vida. Por tudo isso, um grande obrigada de coração!


Espero que tenham gostado de ler a história mais intensa das nossas vidas.

Obrigada por ficarem desse lado!


2 comentários

  1. Adorei a tua escrita, foi tão real que acho que até contrações tive, arrepios e também uma lágrima no canto do olho que acabou por cair. Beijinhos x 4 🤗😘

    ResponderEliminar